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Renato Salzinger
Única foto conhecida nas cores da TCA, de autoria de Renato Salzinger em 08.08.95, no aeroporto em São Paulo, com prefixo N580CR


PÁGINA CRIADA EM 09.04.2001


O N2808W, na pintura original da Western, em 1984

Ele começou sua vida operacional em 13 de junho de 1972, sendo entregue para a Western Air Lines, recebendo o número de frota 808. Em 1984 foi vendido para a Guiness Peat Aviation, sendo alugado para a Northeastern International, onde foi um dos inesquecíveis "yellow Jet" desta empresa americana, passando depois pela Air Malta, Gulf Air, Trans Ocean Airways, Argosy International, Braniff International e ainda, Allegro Airlines. Em 17 de janeiro de 1995, então matriculado N502AV foi arrendado pela International Air Leases para a Air Vias como PP-AIU, mas não chegou a usar o prefixo, voando com o antigo registro americano. Foi retomado ainda em 1995 e alugado em 05 de agosto de 1995 para a Tropical Airlines, recém fundada empresa brasileira, que o matricularia como PP-TLN. Porém, a aeronave usando o prefixo N580CR foi apreendida em São Paulo com contrabando, no mês de setembro do mesmo ano, ficando retida no Rio de Janeiro até junho de 1996.

Após muitas discussões e até a intervenção do governo Norte Americano, foi devolvido para a empresa de leasing e vendido para a Argosy International e, depois, para a L.B.Limited, voando ainda como N580CR nas cores da Laker Airways/Grand Bahama Island. Atualmente, opera como PK-JGT, pela empresa Jatayu Airlines, da Indonésia, com a vistosa pintura vista abaixo.



Tudo começou no dia 25 de agosto de 1995, quando o Boeing 727-247 da Tropical Airlines, prefixo N580CR, de uma das empresas do então governador do Acre, Orleir Cameli (de nome Marmud Cameli) foi apreendido pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, com 110 caixas de Kit fly (equipamentos de navegação aérea), no valor de US$ 210 mil, sem guia de importação, além de outros materiais. Dizia-se que o avião havia sido comprado em junho pelo próprio governador, durante viagem oficial a Miami (EUA). O governador chegou a pagar US$ 250 mil de entrada, e pagaria o restante em prestações mensais de US$ 86 mil mensais, durante 3 anos. A Receita Federal apreendeu o aparelho porque a documentação estava irregular. O avião permaneceu no aeroporto de Guarulhos durante um tempo e foi confiscado pela justiça. A Polícia Federal descobriu que um dos tripulantes, Mauro Olivier de Castro, era piloto do traficante Antônio Mota Graça, o Curica, dono de 7,5 toneladas de cocaína apreendidas em 1994 em Tocantins. Na época, o ex-governador afirmou que o avião era seu e que pretendia comprar outros dez, para usar em exportações de produtos da Amazônia. Orleir Cameli, do PFL, também era conhecido por ter quatro CPF's e dois RG's.

Por se tratar de aeronave irregularmente trazida ao país e transportando contrabando, foi repassada, inclusive com autorização judicial, para a Força Aérea Brasileira, que por não ter interesse em operacionalizar o Boeing 727, colocou-o no Rio de Janeiro, no famoso "canto da corrosão", onde chegou a ilustrar matérias de jornal por estar apodrecendo a céu aberto. Os verdadeiros donos do Boeing, entretanto, não deixaram por menos e pressionaram as autoridades brasileiras e também americanas. O governo brasileiro, depois de um ano, cedeu a pressões da Embaixada dos Estados Unidos e devolveu a uma empresa norte-americana um avião apreendido por ter entrado ilegalmente no país. Veja abaixo como tudo aconteceu, conforme material dos jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo.

O avião, com capacidade para 172 passageiros e valor estimado em US$ 10 milhões (na época), já estava incorporado à frota da Força Aérea. À época da devolução, havia decisão judicial em primeira instância favorável à tomada da aeronave pelo governo brasileiro. Ao ser autuado e apreendido pela Receita Federal, o Boeing estava em poder da empresa TCA (Tropical Airlines), ligada à família do então governador do Acre, Orleir Cameli, mas pertencia de fato à companhia de leasing norte-americana IAL -Aircraft Holding Inc. O avião foi autuado pela Receita em agosto de 1995 no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, com contrabando de computadores e outros equipamentos eletrônicos, além de materiais aeronáuticos, todos sem nota.

Dois anos depois, porém, a própria Receita Federal decidiu pela devolução do aparelho. A correspondência trocada pelo então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Melvin Levitsky, com o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, evidenciam as pressões norte-americanas. Em março de 1997, o embaixador Levitsky argumentou que a devolução do avião "constituiria uma contribuição positiva para as relações comerciais entre os dois países". Everardo Maciel admitiu que sofreu pressões, mas negou, que a decisão tenha sido irregular. "Foi uma decisão jurídica", disse Everardo. O jornal Folha de São Paulo apurou que o governo dos Estados Unidos informou que o relacionamento entre companhias de leasing norte-americanas e brasileiras ficaria sob risco caso o 727-200 não fosse devolvido à IAL. O governo brasileiro ficou com receio que a IAL acionasse a União em tribunais internacionais pedindo ressarcimento pela perda do bem e lucros cessantes. O principal argumento da defesa era que a companhia norte-americana não tinha responsabilidade nos crimes cometidos pela empresa brasileira que alugou o avião.

Além do contrabando, o avião da IAL tinha sido usado em outras irregularidades. A autuação de 25 de agosto de 1995 foi a segunda em dois dias. O avião havia perdido a licença para voar no Brasil (N502AV), foi à Miami e voltou ao país com um prefixo modificado (N580CR). O tráfego do avião também foi irregular. Tinha um plano de vôo para voar de Miami a Manaus, mas desceu em Guarulhos. Depois da apreensão, a IAL pediu à TCA que pressionasse a Receita Federal. O governador Orleir Cameli foi pessoalmente ao gabinete de Everardo Maciel para pedir a liberação do avião. A resposta do secretário da Receita foi direta e curta: "Lamento, governador, mas vai ficar". Com a Embaixada dos Estados Unidos, o relacionamento foi diferente. Entre 1995 e 1997, Everardo manteve o embaixador Levitsky informado, por correspondência, de todos os passos do processo administrativo do recurso da empresa norte-americana.

A vitória da IAL só foi possível graças a uma mudança de posição da Aeronáutica. Em 1995, a Força Aérea Brasileira aceitou a aeronave. Mas, em abril de 1997, depois de receber gestões dos advogados da IAL, comunicou que não se interessava mais pelo aparelho. Alegou que a manutenção implicava em muitos gastos. A Aeronáutica gastava R$ 990 por dia na manutenção do avião apreendido. Para efeito de comparação: a manutenção do Boeing presidencial 707 custava R$ 1.650 diários. Feitas as contas, a Força Aérea dispensou um avião de US$ 10 milhões para evitar o gasto de R$ 361.350,00 por ano. A devolução do avião resultou em um acordo entre governo e IAL. A Receita exigiu que a empresa retirasse o recurso que tramitava em segunda instância, no Tribunal Regional Federal. A FAB abriu mão do avião em troca do ressarcimento pelos gastos realizados em manutenção do Boeing. O processo foi retirado e a FAB recebeu R$ 210 mil. Assim, um avião de US$ 10 milhões vôou de volta aos EUA no dia 31 de outubro de 1997, encerrando (?) mais um estranho capítulo em nossa história.

Em abril de 2001, há um ano atrás, a Polícia Federal abriu, no Acre, um novo inquérito contra o ex-governador Orleir Cameli (hoje sem partido), que foi denunciado pelo Ministério Público Federal de São Paulo por evasão de divisas na compra do 727-200. O MP descobriu que, ao comprar o avião nos Estados Unidos, em 1995, o ex-governador remeteu US$ 250 mil como "sinal" do negócio, sem obedecer aos procedimentos legais fixados pelo Banco Central e a Receita Federal, o que, segundo o procurador da República Marcus Vinicius Aguiar, "levanta sérios indícios de que houve, na operação de compra do avião, a prática de crimes contra o sistema financeiro nacional". O processo ainda está tramitando...

OUTRAS INFORMAÇÕES | OTHER INFORMATIONS

Precisamos de mais informações sobre este caso envolvendo o 727-247 de prefixo N580CR no Brasil. Se você souber de algo, entre em contato.


Sérgio Ricardo