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PÁGINA CRIADA EM 24.08.2002

O presidente da American Airlines, Gerard Arpey, ao falar sobre a retirada do Boeing 727 da frota da empresa, rendeu-se a uma verdade histórica: o Boeing 727 é o DC-3 da era do jato. Esta é uma honra que apenas o Boeing 727 pode mesmo receber. Com 38 anos de operação, o modelo ainda é utilizado por diversas empresas no mundo inteiro, transportando carga e passageiros, diariamente. Para a empresa com sede em Dallas, o modelo foi muito importante em sua expansão e crescimento, abrindo mercados e mantendo a American Airlines em posição de destaque nos Estados Unidos. Sua operação em aeroportos pequenos e centrais, como La Guardia em Nova Iorque, foi um fator decisivo para que o jato se tornasse popular, substituindo os velhos e barulhentos aviões à pistão, um avanço sem precedentes para a época, um glamour que o 727 viveu.

Com ou sem remotorização, a célula básica do Boeing 727 segue sendo uma obra prima capaz de suportar operações em todas as partes do mundo, pousando ou decolando com a mesma segurança nas pistas geladas do Alasca ou nas de terra do interior da África e, ainda assim, dar lucro aos seus operadores.

A longevidade de operação do 727 não encontra comparação nos demais aviões a jato existentes, ainda mais se lembrarmos que o tipo possui apenas dois modelos básicos (727-100 e 727-200) e deixou de ser fabricado há 20 anos. O Boeing 737, por exemplo, está hoje em sua terceira geração que, com exceção de determinadas características visuais, pouco tem a ver com os modelos iniciais, da mesma geração do 727. De um total de 1832 aviões construídos, quase mil deles ainda estão operando e uma quantidade significativa esta apenas desativada, em especial pela retração de mercado causada pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, podendo ser colocada em operação a qualquer momento, se o mercado necessitar. Muitos destes que estão hoje parados são modelos remotorizados ou com hushkits, capazes de operar com maior economia e que, certamente, encontrarão brevemente operadores.

Alguns destes 727's parados hoje voaram sua vida operacional com as cores da American Airlines. Esta empresa americana operou um total de 184 aeronaves (incluindo alguns da Trans-Caribbean e da Braniff) e em 1991 houve o pico de utilização do modelo na frota da companhia de Dallas, com 164 trijatos voando ao mesmo tempo pela empresa em rotas variadas, em vôos longos como Chicago-Phoenix (3.440 Km) e curtos como Boston-Providence (79 Km).

A American Airlines não foi a única empresa a retirar o Boeing 727 de operação nos últimos tempos. A United Airlines e também a Trans World Airlines (TWA), empresa adquirida pela American em 2001, pararam muitos 727's. A TWA retirou quase cem aeronaves de operação, efetuando o último vôo em 30 de setembro de 2000. Entre as maiores empresas americanas, Delta e Northwest ainda operam uma significativa frota de 727's em rotas movimentadas de passageiros nos Estados Unidos, mas pretendem aposentar o modelo em 2003. No mundo todo, diversas empresas ainda operam vôos comerciais de passageiros com o tipo e mesmo no setor executivo e governamental, o Boeing 727 continua servindo com regularidade e eficiência. Donald Trump, a banda de rock U2 e a família real da Arábia Saudita são usuários regulares do modelo como avião executivo.

A importância do Boeing 727 na aviação mundial e mesmo na frota da American Airlines é imensa. Ele foi o avião que tornou possível para as pessoas comuns sua entrada na era do jato. Sua importância histórica, tecnológica e cultural é significante, segundo Dick Schleh, porta-voz da empresa fabricante do 727, a Boeing. Segundo ele, "Porquê ele podia decolar e pousar em aeroportos pequenos, ele literalmente trouxe milhões e milhões de pessoas para a era do jato nos anos sessenta e setenta". Deve-se lembrar que a primeira geração de jatos comerciais, como os Boeing's 707 e 720, além do Douglas DC-8, eram essencialmente aeronaves de longo alcance (médio no caso do 720, economicamente inviável em rotas curtas). O frances Caravelle, que foi encomendado pela United, provou que o jato poderia ser viável em rotas curtas, o que levou a Boeing a desenvolver o 727 para atender este mercado.

Na American Airlines o Boeing 727 iniciou suas operações em 12 de abril de 1964, quando o primeiro avião decolou de Nova Iorque (JFK) para Chicago (O'Hare). A empresa restaurou um Ford Tri-Motor que estava abandonado no Novo México, sendo usado como casa por uma família de camponeses e fez um tour de publicidade sobre a entrada em serviço de um novo trimotor na frota da companhia. O trimotor Ford, depois deste esforço publicitário, foi levado para o Museu Nacional de Aeronáutica e Espaço americano, onde está até hoje (a TWA também usou um Ford Tri-Motor para dar publicidade a entrada em serviço do 727, mas um ano antes, em 1963). Em 1969, graças ao Boeing 727, a American Airlines tornou-se uma empresa que operava apenas jatos, com a retirada em operação dos últimos Lockheed Electra II de operação.

Os aviões da American Airlines operavam inicialmente com uma capacidade de 96 passageiros em duas classes (727-100) e 150 passageiros nesta mesma configuração (727-200). A empresa de Dallas foi uma das principais forças motivadoras da Boeing para desenvolver uma versão maior do 727, eventualmente comprando 109 aviões do modelo alongado. Quando a empresa decidiu antecipar a retirada de operação dos 727, terminando uma parceria de 38 anos (quase três vezes mais o tempo de serviço do lendário DC-3 na empresa), muitos ficaram tristes. O comandante Ken Robinson, que pilotou o 727 durante 29 anos na American Airlines, optando por continuar no 727 mesmo após ter senioridade suficiente para voar outros equipamentos, resumiu tudo em uma frase: "é triste". Ele, que pilotou o último vôo de 727 entre Dallas e Atlanta, no dia 1º de março e completou: "Eu não vou chorar, mas nós estavamos juntos há muito, muito tempo". Após este último vôo, finalmente, o comandante Ken trocou de aeronave e vai pilotar um dos novos 777-200 da American, um avião com motores tão largos quanto o 727.



Não são só os pilotos que estão tristes com a parada do Boeing 727. Com a parada deste modelo e do DC-10, poucos engenheiros de vôo ainda tem este emprego nos Estados Unidos. "É hora de ir em frente", disse Rich Royals, engenheiro de vôo cujos 47 anos de trabalho na American Airlines terminaram em 30 de abril, com o fim da carreira do 727 na empresa. Com 70 anos, ele era um dos dois engenheiros de vôo sem formação profissional como piloto, ainda trabalhando na companhia. O outro, Lou Miller, aposentou-se na mesma data, aos 75 anos, quando finalizou o último vôo internacional do 727 na American Airlines, entre San Salvador e Miami. Os demais engenheiros possuem formação de vôo e serão treinados para assumirem postos de pilotagem em outros aviões da empresa.

A retirada do 727 das rotas da American foi acelerada pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Porém, a retirada dos 727 da frota da empresa já estava decidida antes, em função dos custos de sua operação, incluindo aí o alto consumo de combustível e os requisitos de manutenção mais frequentes em virtude da idade da aeronave. Para se Ter uma idéia, cada manutenção de maior monta no 727 chega a custar pelo menos dois milhões de dólares. Além disso o 727 é o último avião na frota da maioria das empresas a precisar de um terceiro tripulante, o que é uma despesa adicional desnecessária. Os novos 737-800 da American, que estão substituindo os 727 nas rotas que estes operavam, utilizam apenas dois pilotos, voam mais longe e mais alto e queimam 40% menos combustível por passageiro transportado. Como não bastasse tudo isso, ainda tem motores mais silenciosos, capazes de operar com menos restrições em aeroportos centrais.

Foto/Photo: Jonathan Derden
Imagem da aeronave N875AA em Dallas. Este avião realizou o penúltimo vôo de um 727 da American em 30 de abril de 2002, entre Miami e Raleigh

Anteriormente marcada para outubro de 2003, a retirada do 727 de operação na empresa de Dallas foi antecipada para 30 de abril de 2002 e quando este dia chegou, empregados da American, passageiros, entusiastas da aviação e repórteres se acotovelaram no Terminal B do Aeroporto Internacional de Miami para ver nada menos do que quatro partidas de Boeing's 727 daquela cidade, os últimos quatro vôos do modelo na mais antiga empresa dos Estados Unidos. O cerimonial foi montado e viu o embarque do vôo AA926, com a aeronave N875AA, o primeiro a decolar (com destino a Raleigh/Durham), após taxiar sob o tradicional canhão de água, saudando a ocasião. Nos comandos estavam o comandante Christopher Austin, o primeiro oficial Michael Hearne e a engenheira de vôo Kathy Emery.

Foto/Photo: Justin Cederholm
O interior da aeronave N875AA em Miami, pouco antes de receber os passageiros para seu último vôo comercial na American Airlines

Foto/Photo: Justin Cederholm
A aeronave já com alguns de seus passageiros, prepara-se para a decolagem

Foto/Photo: Justin Cederholm
O Boeing 727-223A de prefixo N875AA é saudado em Miami ao dirigir-se para a decolagem, com o tradicional jato de água dos Bombeiros

Foto/Photo: Justin Cederholm
A aeronave alinha-se na pista de Miami para o vôo AA926, o penúltimo vôo de um 727 na American Airlines

Foto/Photo: Justin Cederholm
O solo de Miami vai se distanciando do 727 que ruma para Raleigh/Durhan. Logo outro 727, a N864AA iniciará o último vôo do modelo na empresa

Foto/Photo: Justin Cederholm
Vista da cabine do N875AA depois da chegada em Raleigh. Depois de 24 anos de operação contínua, este 727 deixa a American Airlines

O último vôo mesmo, o AA765, foi operado pela aeronave N864AA, com o comandante Robert Fussel, tendo como co-piloto Michael Harrison e como engenheiro de vôo Gary Forhan.

Foto/Photo: Mark Durbin
Imagem do 727-223A de prefixo N864AA no terminal de Miami, como esteve esperando para o vôo AA875, o último de um 727 na American Airlines

Foto/Photo: Justin Cederholm
O N864AA decolando de Miami em 08 de abril de 2002, pouco mais de 20 dias antes de realizar seu último vôo na empresa

Foi grande a publicidade do último vôo do 727 na American Airlines, incluindo uma revoada no show de ar e mar de Fort Lauderdale, onde fez uma aparição voando em formação com um Boeing 777, visando demonstrar a diferença entre o novo e o antigo na frota da empresa. Tom Hynes, chefe da base Miami da American disse que "a aposentadoria do Boeing 727 está sendo um momento de muita emoção para os pilotos da empresa. Todos nós temos uma conexão muito grande com o 727. Quase todos os pilotos da American voaram no modelo como piloto ou co-piloto em algum momento de suas carreiras. Foi uma honra e um privilégio voar o 727. Este avião pode estar sendo retirado de operação, mas não será nunca esquecido".


Foto/Photo: Alan Rossmore
Um 777 e um 727 da American em Fort Lauderdale, comemorando a "aposentadoria" do 727

Foto/Photo: Autor deconhecido
Outra imagem do vôo em formação do 777-200 e do 727-200 da American em Fort Lauderdale



ESTATÍSTICAS DO BOEING 727 NA AMERICAN AIRLINES


Durante um ano típico, um 727 da empresa:

  • Voava 2.3 milhões de quilômetros, o equivalente a 58 voltas ao mundo
  • Voava 2.745 horas
  • Queimava 15 milhões de litros de combustível para jatos
  • Trocava 45 pneus
  • Trocava 12 vezes os freios
  • Trocava 1.6 motores
Em sua vida operacional na American Airlines, um 727 típico...

  • Decolou e pousou 40.250 vezes
  • Transportou 4 milhões e meio de passageiros
  • Utilizou 40 motores
  • Utilizou 1.100 pneus
  • Utilizou 290 sistemas de freios

A média de operação dos 727 da American Airlines foi de 24 anos e três meses e o mais voado pela empresa operou 30 anos e oito meses.


Sérgio Ricardo