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PÁGINA CRIADA EM 22.03.2003

Os tripulantes são treinados para lidar com uma ampla lista de situações anormais ou emergenciais em vôo. Situações como falha de motor, perda de pressurização, problemas hidráulicos ou elétricos, fogo na cabine ou nos compartimentos de carga, falha nos freios e outras milhares de possibilidades, em uma imensa lista de problemas possíveis e suas respectivas atuações corretivas. Porém, mesmo assim, em certas ocasiões, algumas panes imprevistas ainda ocorrem em aeronaves de passageiros e, para estas, não existem ações corretivas nos livros e manuais de bordo, simplesmente porque nunca aconteceram antes.

Para alguns, a força do 727 não surpreende, pois ele é fabricado pela mesma empresa que construiu os famosas Fortalezas Voadoras (B-17) na Segunda Guerra Mundial. Como alguns costumam dizer, a Boeing coloca "músculos" nos seus aviões. Neste relato conheceremos três histórias de incidentes onde o Boeing 727 mostrou sua força e confiabilidade.


BRANIFF 104: EMERGÊNCIA EM WASHINGTON


Foto/Photo: Howard Chaloner
727-27 prefixo N7282 visto em La Guardia em 11 de agosto de 1977. Este 727 usa o mesmo esquema de cores do N1728T


Em oito de agosto de 1973, o vôo 104 da Braniff entre Nova York e Washigton estava sendo operado pelo 727 de prefixo N1728T, levando a bordo 75 passageiros. A decolagem foi tranquila, com o 727 subindo rapidamente pelos céus da Capital norte-americana rumo a sua altitude de cruzeiro quando, sem aviso algum, uma violenta explosão sacudiu a aeronave. Alheio ao susto dos passageiros, o comandante Jack Shirley iniciou uma completa varredura no painel do 727 para verificar o que estava errado. A cena, em detalhes, foi descrita assim pelo comandante: "nós tivemos uma descompressão explosiva e a pressão da cabine caiu a zero. As lâmpadas que demonstravam uma situação insegura do trem de pouso se acenderam, os instrumentos mostraram que a pressão hidráulica e o nível dos fluídos cairam também para zero, os indicadores dos flaps se tornaram erráticos, a buzina de alerta de altitude soou e todas as máscaras de oxigênio do cockpit e da cabine caíram. Estavamos em grande perigo!".

Uma das comissárias correu ao cockpit para avisar que havia um grande buraco na asa direita, logo acima do trem de pouso. Parecia, para a tripulação, que uma bomba havia sido detonada em um dos porões da aeronave que, apesar disso, continuava a voar sem mostrar maiores dificuldades. "Nós estavamos com nossos sistemas mínimos", lembra o comandante Shirley. O controle do 727 estava com o primeiro-oficial Spence, que colocou o Boeing novamente no rumo do aeroporto Dulles enquanto o comandante foi até a cabine de passageiros para verificar a situação na asa, descrita pela comissária: "podia-se ver a luz do dia pelo buraco na asa do avião. O trem de pouso pendia sem controle e havia fumaça saindo da parte de baixo do Boeing." Ao ver esta cena, o comandante Shirley avisou as comissárias que elas deviam instruir os passageiros para se preparar, pois a aeronave teria de efetuar um pouso de emergência, pois o piloto não tinha a menor idéia de como o 727 se comportaria ao tocar o solo, uma vez que não havia pressão hidráulica nos sistemas e o trem de pouso estava avariado.

Enquanto isso, na cabine, o engenheiro de bordo Roger Stephens, estava ocupado tentando restaurar os controles com a força do sistema reserva da aeronave. Por sorte, os sistemas de reserva funcionaram normalmente e, assim, o 727 mesmo com dificuldades, retornou para pouso, efetuando uma longa curva de aproximação, enquanto o engenheiro Stephens baixava as outras unidades do trem de pouso, o trem dianteiro e o trem principal do lado esquerdo. Todos os veículos e equipamentos de emergência do aeroporto Dulles estavam alinhados ao longo da pista, preparados para o pior, quando o vôo 104 veio para o toque. De forma surpreendente, mesmo com todos os danos de uma explosão por motivos desconhecidos, o trem direito aguentou o peso da aeronave e o 727, após a aplicação dos freios e da reversão dos motores, parou sem maiores dificuldades. Em poucos instantes, com o Boeing parado, tripulantes e passageiros foram deixaram o interior do avião da Braniff.

Uma rápida inspeção do 727 no solo mostrou o que aconteceu ao vôo 104: o freio do trem de pouso direito aqueceu além dos limites previstos durante o táxi antes da decolagem e, após o recolhimento das rodas, gerou muito calor na baía direita, explodindo um dos pneus desta unidade quando o avião estava chegando a sua altitude de cruzeiro. Pedaços de metal do trem e de suas carenagens chocaram-se com a fuselagem e um destes pedaços perfurou a parte traseira do compartimento de carga, ocasionando a perda de pressurização do 727. A estrutura do trem de pouso direito sofreu grandes danos, com os fios de eletricidade e as linhas de pressão sendo completamente rompidas, ficando pendentes na parte inferior do 727 como um espagueti. Investigadores do NTSB e engenheiros da Brannif elogiaram o profissionalismo e a perícia da tripulação do vôo 104, pois a situação que eles enfrentaram era de um desastre iminente. Porém, a tripulação também tinha elogios para fazer e eles eram todos para o Boeing 727. Como resumiu o comandante Shirley: "o avião é fantástico, dinâmico... Aguenta o tranco e ainda assim nos traz de volta para casa."

Toda a competente e serena tripulação do vôo 104 recebeu o famoso prêmio de segurança aérea civil Daedalian (Daedalian Civilian Air Safety Award), que desde 1934 é entregue anualmente para algum comandante e sua tripulação que tenham demonstrado "a mais notável habilidade, bom julgamento e heroísmo, acima e além dos padrões normais requeridos".


UM BOEING 727 SALVA A VIDA DE UM REI


Foto/Photo: Autor Desconhecido
Um dos 727-200 da RAM visto em 1971. Note o símbolo da Força Aérea Marroquina no motor da aeronave.


A empresa RAM, Royal Air Maroc, é um antigo operador do Boeing 727. Operando modelos 727 Advanced, frequentemente transportava em suas aeronaves o Rei daquele país, o monarca Hassan II. Em fins de 1972, um dos 727-2B6 da empresa estava em um vôo doméstico transportando o Rei quando, de surpresa, foi cercado por três caças da Força Aérea do Marrocos, nas mãos de oficiais dissidentes que pretendiam derrubar a aeronave e matar o monarca. Tiros de canhão e metralhadoras atingiram diversas vezes a fuselagem do Boeing. Quando um dos caças alinhou-se com a traseira do 727, preparando-se para o disparo de um míssil, o comandante do 727 enviou uma mensagem pelo rádio dizendo que o Rei estava morto, atingido por um dos tiros dos caças. O ataque cessou e os caças escoltaram o 727 até seu pouso em Rabat onde, para surpresa dos militares rebeldes, o Rei Hassan II assustado, mas ileso, desceu as escadas, protegido por forças leais.

Algum tempo depois, além da tripulação, o Rei Hassan II fez questão de condecorar o Boeing 727 com a Ordem do Trono, a mais alta condecoração do reino, como forma de agradecimento ao avião que, mesmo atacado, salvou-lhe a vida. Após o reparo do 727 por técnicos da própria fábrica, a aeronave, que não foi identificada, retornou ao serviço ativo de passageiros ostentando sua merecida condecoração real.


BOEING 727 x CESSNA: UM ENCONTRO NOS CÉUS DE OKLAHOMA


Foto/Photo: R. Covington Jr
O Boeing 727 que era operado pela FAA com o prefixo N27, hoje com os US Marshalls, ostentando o prefixo N530KF, visto em Phoenix, em junho de 2001.


O terceiro incidente não teve um final feliz. O Boeing 727 da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA), voando ao sul de seu centro de treinamento em Oklahoma City, foi atingido por um pequeno Cessna com três estudantes. O Boeing recebeu o forte impacto do Cessna em seu estabilizador horizontal direito, que arrancou quase toda esta estrutura do 727, danificando também seu estabilizador vertical. Enquanto o 727 estabilizava-se após o choque, o Cessna caiu de aproximadamente 3.000 pés, provocando a morte de seus três tripulantes. Com bastante perícia, a equipe do 727 trouxe a aeronave, prefixo N27, para o pouso seguro na pista do aeroporto Will Rogers.

Sérgio Ricardo

Fonte: The Boeing 727 Scrapbook - Len & Terry Morgan
1978 - Aero Publishers Inc.