Voltar ao início | Back to the index História do site | Website's history 727's para seu FS | 727's for your FS Notícias | News Kits | Kits História | History Fotos | Pictures Dados técnicos | Technical data Download | Download Links | Links Aeronaves brasileiras | Brazilian planes Acidentes | Crashes



PÁGINA ATUALIZADA EM 07.09.2003

A empresa Braniff International Airways é lembrada sempre como uma das mais fascinantes histórias da aviação mundial. Sua história começou em 1928 com a fundação da empresa original, criada união de esforços dos irmãos Thomas E. Braniff (empresário) e seu irmão, Paul Revere Braniff, que era piloto e lutou na 1ª Guerra Mundial. Seu primeiro avião foi um Stinson Detroiter, com cinco lugares e com ele, em 20 de junho de 1928, a empresa operou sua primeira rota com passageiros, voando de Tulsa para Oklahoma City, sua sede. O nome oficial, Braniff Airways, surgiu em 03 de novembro de 1930 e a empresa cresceu, passando a operar com os então modernos Douglas DC-2 em 1937 e, logo depois, com o DC-3, este com 21 lugares e trazendo em sua introdução, as primeiras comissárias de bordo. Em 1936, Paul Braniff saiu do negócio e deixou a empresa apenas com Thomas. Este iniciou a transferência da Braniff para o Texas, instalando-a no famoso Dallas Love Field, em 1942. Entre 1943 e 1946, a empresa operou uma subsidiária no México, a Aerovias Braniff. Com o final da 2ª Guerra, a empresa ganhou concessões para expandir suas rotas internacionais para o Caribe e as Américas Central e do Sul, o que levou a compra das aeronaves Douglas DC-6.

Apesar da morte de Thomas Braniff em um acidente aéreo com seu avião particular em 1954, a empresa cresceu muito nos anos 50 com Charles E. Beard em sua presidência. Por coincidência, Paul Braniff, irmão de Thomas e co-fundador da empresa, também morreu em 1954, mas de câncer nos ossos. Os primeiros jatos vieram com a introdução do Boeing 707 em 1959. A empresa surpreendeu o mercado ao adotar um padrão colorido para cada um de seus aviões, ao invés de uma cor padrão para todos e deixou os americanos perplexos ao trazer os jatos BAC One-Eleven da Inglaterra para operar em suas rotas curtas (1965), mas os 727 não tardaram a fazer parte da frota da empresa, que aos poucos aposentou seus One-Eleven em prol do trijato da Boeing, do qual operaram ao todo 124 aeronaves (46 do modelo 100 e 78 do modelo 200). A frota da empresa sempre foi eclética e também incluiu os modelos Boeing 720 e Douglas DC-8, incorporados em 1968. Os Boeing 747-100 chegaram em 1971. A empresa texana utilizou-se também dos modelos de longo alcance 747SP e 747-200. Em 1978, porém, a Braniff fez um acordo inesperado e entrou para a história mais uma vez: em aliança com as empresas British Airways e Air France, tornou-se a primeira (e única) empresa americana a operar o Concorde em vôos entre Dallas e Washington, com conexões na mesma aeronave para Londres (Heathrow) e Paris (Charles de Gaulle). Este serviço utilizava-se de aeronaves das empresas européias, mas nenhum avião teve aplicadas as cores e o logotipo da Braniff.


O que era uma empresa sólida, entretanto, sofreu sérios abalos com a entrada da desregulamentação no mercado da aviação norte americana em 1978, graças a um erro estratégico de sua diretoria. Seu presidente desde 1965, Harding L. Lawrence (ex-executivo da Continental Airlines) viu o que parecia ser uma oportunidade de ouro para fazer crescer a Braniff, pois acreditava que o Congresso dos EUA logo reverteria a desregulamentação. Assim, quando foram tornadas livres rotas e preços em outubro de 1978, a diretoria da Braniff iniciou o que foi anunciado como o maior plano de expansão da história da aviação mundial. Em apenas um único dia, 15 de dezembro de 1978, a empresa inaugurou 32 novas rotas para 16 cidades, muitas no exterior. Para ser capaz de fazer frente a este crescimento, efetuou uma encomenda de US$ 925 milhões na Boeing, adquirindo 41 novos 727-227, 747-227 e 747SP. Em resumo, com o aumento dos preços do combustível do final dos anos 70 e início dos anos 80, aliada a uma competição predatória pelo mercado recém-liberado, a Braniff acumulou índices altíssimos de perdas operacionais e a falência foi inevitável, sendo decretada em 15 de maio de 1982. Ao final, a empresa que possuía 62 aeronaves e 9.000 empregados, estacionou seus aviões Dallas Forth-Worth ao final deste dia, tornando-se a primeira empresa aérea norte-americana a abrir falência.

Por duas vezes, tentou-se reiniciar a empresa, uma vez em 1984, através da família Pritzker, proprietária da cadeia de hotéis Hyatt e a nova companhia, Braniff Inc., com 2.000 funcionários (todos ex-empregados recontratados), passou a voar para 21 cidades operando diversas aeronaves, entre elas 30 727-200, alguns 737-200 e até One-Eleven's, atuando como uma low-fare. Em 1988 a empresa, então vendida para outro grupo, encomendou aeronaves A320, mas as dívidas cresceram mais que a receita, fazendo a empresa falir novamente, desta vez em 27 de setembro de 1989. Uma terceira tentativa, como empresa charter, foi feita entre 1991 e 1992, mas também não deu resultados.


O BOEING 727-100 NA BRANIFF



O Boeing 727 foi introduzido na frota da Braniff Airways em 24 de maio de 1966, com a entrega da aeronave N7282, um 727-162, pintado na cor laranja do novo esquema de cores da empresa, em cores pastéis, assinado por Alexander Girard. No dia 27 de maio do mesmo ano, a companhia recebeu seu segundo avião, o N7270, este um legítimo 727-27 do modelo C (Convertible), com capacidade de conversão dos seus 102 lugares de passageiros para carga. No total, 46 aeronaves do modelo 727-100 foram empregadas pela Braniff vindos de diversas fontes, pois destes apenas 21 eram modelos construídos especialmente para a empresa sediada em Dallas. Em meados dos anos 70, os 727-100 começaram a ceder seu lugar na frota para o modelo 727-200, maior e com mais alcance.


O BOEING 727-200 NA BRANIFF



No final de junho de 1970, a Braniff Airways recebeu seu primeiro 727-200, com a entrega das aeronaves 727-227 de prefixo N401BN (vermelho), N402BN (vermelho) e N403BN (azul-escuro) em uma única ceriônia. Eles estavam pintados no esquema de cores pastéis (conhecido como esquema Girard em homenagem ao seu criador). Os 727-200 iniciais da empresa possuiam 129 assentos e tornaram-se logo a principal aeronave da colorida frota texana em seus vôos internos nos EUA. Uma campanha foi criada para promover o vistoso e alegre interior estilo Wide-Body dos 727-200 da empresa, com o nome de "727 Braniff Place".


Este interior incluía tetos mais altos, janelas com molduras especiais, compartimentos maiores e modulares para bagagens, luzes embutidas e controles especiais para o sistema de ar-condicionado e luzes de cada passageiro. Os assentos formavam fileiras de três lugares de cada lado do corredor e o assento central, se não utilizado, era dobrável e transformava-se em uma mesa ou área de trabalho. A Braniff foi uma das primeiras empresas a colocar este tipo de interior nos seus 727, a um custo de US$ 7 milhões para o equipamento total da frota com estas características.


A HISTÓRIA DO N408BN



Alexander Calder foi um importante e famoso artista da Arte Moderna e, nos anos 70 e 80, aplicou seu talento em materiais tão diversos quanto móbiles, carros, esculturas e até aviões comerciais operacionais! O espírito inovador de Alexander Calder foi totalmente exposto de maneira inédita nas duas aeronaves da Braniff. Em 1972, George Gordon, um publicitário norte-americano, convenceu o artista a pintar um avião da empresa texana como os seus coloridos móbiles, resultando em um DC-8-62 pintado em cores vivas, chamado de "Flying Mobile".


O projeto foi tão bem recebido que, em 1975, Alexander Calder foi convidado para pintar um dos 727-200 da Braniff para as comemorações do bi-centenário da Independência dos EUA. A aeronave, com prefixo N408BN recebeu, depois de pintada, o nome de "Flying Colors of the United States" em uma cerimônia na cidade de Washington D.C., na qual estavam presentes o próprio Calder e sua mulher, representantes da Braniff e a mulher do então presidente americano, Gerald Ford, a primeira-dama Betty Ford, ela própria uma fã de Alexander Calder e incentivadora do projeto.


O artista, que morreu em 11 de novembro de 1976, é lembrado até hoje pelas suas obras, em especial os dois aviões transformados em obras de arte (veja o site The Calder Collection, no qual George Gordon preserva os dados sobre Alexander Calder). Hoje é possível se comprar miniaturas do N408BN nas cores especiais, pois a "The Calder Airplane Project" licencia o design. Uma das empresas que comprou os direitos é a Gemini Jets, que possui em sua linha um 727-200 na escala 1/400 com a pintura "Flying Colors of The United States", facilmente encontrado em lojas especializadas e sites de leilão.



Após a cerimônia, o N408BN voltou as rotas normais da empresa. A aeronave foi, originalmente, entregue para a Frontier Airlines como N7278F e operou por quatro anos antes de ser vendido para a Braniff Airways junto com diversos outros 727 da Frontier. O esquema de pintura especial de Alexander Calder no N408BN, conhecido como "Flying Canvas", foi mantido até 1982 quando a empresa encerrou suas operações. O avião era chamado de "Sneaky Snake" pelos pilotos e engenheiros da empresa, por duas razões: primeiro porque pouco antes de sua morte em 1976, Calder pintou uma cobra na cobertura do motor 1, originalmente entregue com o desenho de uma fita. Segundo, porque o N408BN tinha um problema de ajuste de rumo e altitude crônico, necessitando de constantes correções manuais, fato que o tornava uma aeronave impopular entre as tripulações. A aeronave também era presença constante nos hangares da empresa por problemas técnicos, sendo este fato tão evidente ao ponto do engenheiro-chefe de operações de Las Vegas dizer, certa vez, que se tentava evitar que o avião voasse para aquela cidade, pois toda vez que ele ía, ficava alguns dias em sua base de manutenção. Comentava-se que o avião era tão temperamental quanto seu pintor.



Em 1982, quando do encerramento das operações, o N408BN foi chamado de volta para Dallas com o restante da frota e permaneceu por lá até 1984, quando em 1º de março daquele ano a rede Hyaat de hotéis lançou a chamada Braniff II (Braniff Inc), oportunidade na qual o N408BN juntou-se aos outros 29 727s que seriam operados, sendo repintado em outras cores, no esquema conhecido como "vermelho, branco, azul e cinza". No ano seguinte, em 1985, em virtude da retração da demanda, 20 dos 30 727s foram paralisados, entre eles o N408BN. Sua baixa definitiva na frota da empresa ocorreu em 19 de fevereiro de 1985 e em 30 de maio daquele ano foi vendido para a International Air Leases (IAL) que o alugou para a Pride Air entre junho e novembro de 1985, Arrow Air entre dezembro de 1985 e janeiro de 1986, World Airways entre março e setembro de 1986, Air Atlanta entre novembro 1986 e abril de 1987, Cayman Airways entre julho de 1987 e o início de 1988, sempre mantendo o registro N408BN. Em março de 1988 foi arrendado para a Toros Air da Turquia como TC-AJY e voltando para a International Air Leases em junho de 1990 como N408BN. Sua última empresa operacional foi a Zuliana Air, da Venezuela, onde vôou como YV-466C entre agosto de 1992 e setembro de 1993. Foi retomado pela empresa de leasing IAL nesta época e em novembro de 1993 e começou a ter seus sistemas desmontados para fornecer peças para outros 727, destino comum a muitos aviões que até hoje são levados para Opa Locka, nos arredores de Miami.

Porém, a cerreira do N408BN (ou, o que restava dele) não havia acabado ainda. Ele foi vendido para a Columbia Pictures, que o utilizou nas filmagens de "Bad Boys", filme com Martin Lawrence e Will Smith. No final deste filme, os policiais interpretados por estes atores envolvem-se em um tiroteio com traficantes na cidade de Miami e, quando os traficantes sobem no N408BN, que resumia-se na época a uma fuselagem pintada de branco, tiros disparados contra alguns tambores de material inflamável perto da seção de cauda do 727, destroem o avião e matam o traficante. As imagens abaixo mostram algumas das cenas do filme, final inusitado para um dos mais famosos 727 construídos.





O N408BN NAS CORES DE ALEXANDER CALDER

















GALERIA DE IMAGENS COM OUTRAS EMPRESAS
















Sérgio Ricardo

Fonte: Braniff International Historical Site, The History of Braniff International Airways, The Calder Collection
.